quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Francis Bacon e o Empirismo

A administracao e essencialmente uma arte ativa. Nao se gesta, no sentido latino original do termo, sem uma atitude indutiva, constituindo-se por pathos apos a deducao intuitiva ou cientifica cartesiana. O problema da inducao e basicamente o empirismo, e e liberalismo aas ultimas consequencias, para se chegar do particular ao universal, e nao partir do universal para o particular, o que gera no fim das contas uma excessiva estereotipizacao e iminencia conceitual. O empirista, ao contrario, parte do particular, da experiencia, e nao do raciocinio abstrato. Tal sao as diametralmente opostas teorias do conhecimento cientifico.

Francis Bacon, contemporaneo de Descartes, em seu Novum Organum, concebido como uma critica ao livro de Aristoteles Organum, sistematizou o metodo cientifico indutivo como esperiencia estruturada. Uma pequena sintese da classificacao e armadilhas estereotipas se segue:

No método indutivo, Bacon distingue a experiência vaga e a experiência escriturada. A primeira é a observação feita ao acaso. A segunda corresponde à observação metódica e aos experimentos. Ambas servem para o preparo das acima mencionadas "tábuas de investigação" que são três:

Presença. A tábua de presença registra o fenômeno em todas as circunstâncias em que ele se manifesta. O calor, por exemplo: deveriam ser anotados todos os casos em que ele se apresenta: luz do sol, labaredas do fogo, no sangue humano, etc.

Ausência. A tábua de ausência ou da negação, anota os fenômenos paralelos contrários: raios frios do luar, sangue frio de certos animais, etc.

Graduações. A tábua das graduações ou comparações anota possíveis correlações entre as modificações nos fenômenos em questão.

Os procedimentos experimentais de Bacon compreendiam: de variação, de prolongação, de transferência, de inversão, de compulsão, mudança de condições.

Variação. Consistia em fazer variar alguma das variáveis possíveis na experiência. Ex.: aumentar o peso do objeto que cai para verificar se influi na velocidade da queda.

Prolongação. O ímã atrai o ferro: pequenas partículas de ferro em mistura aquosa também seriam atraídas?

Transferência. A chuva faz as plantas crescerem: que influência teria o ato de regar que imitasse a chuva?

Inversão. Comprovando-se que o calor propaga-se por movimento ascendente, o frio propaga-se por movimento descendente?

Compulsão. Aumentando-se ou diminuindo-se as causas, os efeitos cessarão?

União. O gelo e o salitre, separadamente, resfriam os líquidos: que acontecerá se forem unidos? Mudança de condições. Uma combustão que ocorre em ambiente fechado, repetir-se-á da mesma forma se ocorrer ao ar livre?

Além dessas técnicas principais, Bacon mostra técnicas auxiliares na distinção de fenômenos ou prerrogativas:

Solitárias: prerrogativas em corpos iguais em tudo, diferindo com relação a somente uma característica.

Migrantes: casos em que uma qualidade manifesta-se repentinamente e desaparece: brancura da água espumosa, por exemplo.

Ostensivas: quando uma certa característica é particularmente evidente, como o peso do mercúrio.

Analógicas. Um fenômeno pode esclarecer outro.

Cruciais. Casos decisivos que obrigam o investigador a optar entre duas explicações diametralmente opostas, referentes ao mesmo fenômeno.

Sobre as fontes de erro, ainda quanto ao "Método", Bacon discute, no Livro I do Novo Organum, as causas do erro na busca do conhecimento. Ele aborda as falácias lógicas no raciocínio humano, de que fala Aristóteles, porém pelo aspecto psicológico de suas causas. Para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os meios de torna-lo eficaz seria necessário ao investigador libertar-se daquilo que Bacon chama "Ídolos" ou engodos que levam a noções falsas, remetendo ao conhecimento positivista historico como uma falha ao estereotipar o conhecimento pelo mecanismo abstrato.

1. Ídolos da Tribo. São vícios inerentes à própria natureza humana, tal como o hábito de acreditar cegamente nos sentidos. As percepções obtidas mediante os sentidos são parciais. Elas levariam à percepção do universo de modo mais simples do que ele é na verdade. Também o vício de reduzir o complexo ao mais simples segundo uma visão que se restringe àquilo que é favorável, que é conveniente. Na Astrologia, por exemplo, ignora-se o que falha para ficar com as predições que resultaram conforme o esperado. Outro vício é a transposição. Na alquimia os alquimistas "humanizam" a atividade da natureza atribuindo-lhe antipatias e simpatias.

2. Ídolos da Caverna. São erros devidos à pessoa, não à natureza humana; trata-se de diferenças individuais de habilidade, capacidade. Alguns espíritos tem condições para assinalar as diferenças, outros, as semelhanças: outros indivíduos se detêm em detalhes, outros olham mais o conjunto, a totalidade; ambos tendem ao erro, embora de maneiras opostos .

3. Ídolos do Foro (ou do mercado). São erros implicados na ambigüidade das palavras; a linguagem é responsável. Uma mesma palavra tem sentidos diferentes para os interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre as pessoas . Esse pensamento de Bacon evoluiu até a filosofia da linguagem ou positivismo lógico do século XX.

4. Ídolos do Teatro. Tem suas causas nos sistemas filosóficos e em regras falseadas de demonstração. Esses sistemas são puras invenções, como peças de teatro. Ele fala, por exemplo, da vã afetação de certos filósofos.

O preceito da observância contra os ídolos é o início ou introdução ao método. É seu instrumento demolidor. Seu instrumento construtivo é a Indução: partindo-se dos fatos concretos, tais como se dão na experiência, ascende-se até as formas gerais, que constituem suas leis e causas.

Interessante notar que a guerra ideologica entre franceses e ingleses e talvez a mais fertil guerra de que tenho conhecimento ao longo dos seculos. Ja ha tempos os ingleses tem supremacia conceitual, e certamente seumetodo indutivo tem parte na gesta do povo anglo-saxao. Os Brasil, mais aquiescido com os franceses, tem muito a aprender, e tal metrologia empirica e a unica capaz de, a partir da miscigenacao antropofagica nacional, indutivamente construir heterodoxamente uma cosmologia moderna para a estrada do futuro de nossa civilizacao.

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